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Feliz 2012

Oi gente

Logo estaremos iniciando mais um ano letivo e com ele, novos desafios. No meu caso, assumirei novas vagas como professora concursada em escolas especiais de Curitiba. Ano passado morei e trabalhei em Santa Catarina e para mim, foi uma  experiência singular pois não conhecia o trabalho de segundo professor. Fiz acompanhamento pedagógico a um aluno de 17 anos, com Síndrome de Down, incluído na 7º série do ensino regular. Quando me indicaram o aluno, lá em meados de maio, acreditava que ele já estaria alfabetizado e acompanhando, mesmo com dificuldades, os conteúdos da sua série…para minha surpresa, ele mal escrevia o nome.. tinha um caderno praticamente em branco, apenas com algumas atividades de uma das professoras. Ninguém sabia me dizer o que eu poderia trabalhar com ele…  não havia nenhuma orientação por parte da coordenação, apenas uma pasta com atividades muito simples e infantis e um relatório, digamos fraco, com o registro do que havia sido trabalhado no ano anterior. Não havia nem um fundamento metodológico do núcleo de educação para me orientar, ou seja, precisei avaliá-lo para conseguir  averiguar o que poderia ser feito. Trabalhei apenas um mês, quando os professores entraram em greve, abro parênteses aqui,  para representar minha indignação quanto a valorização do profissional de educação no estado de Santa Catarina: antes da greve eu recebia $ 550 reais por não ter Pedagogia e ser formada em Letras, o estado não considerou  minha experiência, nem a pós, nem os cursos na área de educação especial. Em Santa Catarina basta ter Pedagogia para trabalhar com ensino especial e ganhar salário maior…imaginem o tamanho da minha frustação!  Com a greve, o governador resolveu pagar, de muita má vontade, o piso nacional e eu terminei o ano com um salário de $ 750 reais…

Pois bem…mesmo indignada com meu salário, não deixei que isso atrapalhasse meu desempenho profissional. Meu trabalho era voltado para os conteúdos de alfabetização e em poucas semanas observei que meu aluno aprendia com certa rapidez o que ensinava. Conseguia por exemplo, fazer junções silábicas formando pequenas palavras…resolvi aplicar o método da PANLEXIA, método este, indicado para pessoas com dislexia, mas como aprendi o método com a Mônica Luczynski, sabia que poderia ser aplicado também, com alunos com dificuldades de aprendizagem. Para minha surpresa, meu aluno se adaptou satisfatoriamente com o método e terminou o ano realizando  leitura e escrita de pequenos textos, em letra caixa alta, imprensa e um pouco da cursiva…teve grande progresso o que me deixou  muito feliz. Além disso, realizava operações de adição e subtração com números decimais e operações simples de multiplicação e divisão (aqui, apenas noção!). Procurei focar meu trabalho no pedagógico dentro da sala de aula mas nada me impedia de ser mais ‘social’: as vezes passeávamos até a panificadora do bairro para tomar um café ou acompanhar um evento da cidade. Eu tinha essa liberdade porque ele não acompanhava muitos dos conteúdos abstratos da 7ª série. Mesmo assim, sempre que possível, adaptava os conteúdos e não permitia  que ficasse fora dos grupos de trabalho,  delegando a ele funções das quais tinha que cumprir com responsabilidade.

Outros parênteses: na escola não havia “bullyng” em espécie alguma…não havia piadas, sacanagens, discriminações…achava aquilo o máximo, tanto que meu aluno era aceito por todos da escola, sempre recebia cumprimentos e elogios. Tratavam ele com muito respeito, assim como os gordinhos, os magrinhos,  os baixinhos, os altinhos, os afrodescentes, os indígenas…

No fim do ano  preparei um relatório detalhado e explicativo do desempenho do meu aluno, com a assinatura dos professores, conteúdos trabalhados, referência bibliográfica, dicas de filmes e sites para orientar a próxima professora…eu já sabia que não iria continuar em Santa Catarina em 2012 e mesmo que continuasse,  a chance de atender o mesmo aluno seria nula, durante a escolha de vagas teria que contar com uma sorte improvável.

Entreguei a pasta com o relatório e algumas atividades desenvolvidas para a secretaria que orientou a outra: “Coloque esta pasta junto com a outra lá no fundo dessa gaveta!” Quase chorei…  Enfim, quem é professora sabe: se vamos viver de reconhecimento é melhor escolher outra profissão.

O importante foi feito, o meu melhor foi dado…me sobram boas lembranças, uma saudade gostosa das pessoas legais que conheci e das risadas que dei.

Agora inicio uma nova etapa profissional e mesmo tendo noção do que me espera, dá um friozinho na barriga pela novidade!

Acredito que muitos dos professores que por aqui passarem  também terão boas experiências pra contar  e então, estaremos todos juntos para dividirmos tudo isso.

Um grande beijos e um ano letivo feliz à todos!